domingo, 17 de março de 2013

Ensaio Sobre a Cegueira

Muita gente fala desse livro como um Bíblia sagrada do mundo moderno pós-apocalíptico, e diga-se de passagem, é a mais pura verdade. Ensaio Sobre a Cegueira é, dentre muitas coisas, um livro sobre o desapego e talvez, maturidade. Saramago foi um gênio pensante sobre o mundo, sobre as relações do homem com ele mesmo e estado de espíritos. Esses três pensamentos, em exato, estão nas páginas do Ensaio Sobre a Cegueira. Um homem cego por não ter prestado atenção no mundo ao redor, inclusive no trânsito onde encontrava-se. Um médico cego por estar preocupado demais com seus pacientes e não cuidar de si mesmo. Uma mulher cega por esconder os olhos por trás dos óculos escuros. Um homem simples e miserável com um dos olhos cegos preso no desejo de voltar a enxergar deixando-o cego na epidemia de cegueira. Um homem cego por apenas ver oportunidades em outras pessoas para obter sexo. A metáfora de uma epidemia deixa mais clara a intenção de alerta do autor. A única que passa por toda epidemia sem sofrer nada, apenas a angústia de cuidar do marido cego, é justamente a esposa do médico. Essa, por sua vez, não ficou cega por saber enxergar os mínimos detalhes do que lhe cercava, inclusive apenas observando, conseguia ver as melhores coisas nas piores coisas.

Os personagens sem nome apenas deixam a trama mais densa, deixando o leitor com uma impressão de quem esqueceu alguém, e principalmente, a sua importância durante todo o desenvolver de relações entre eles. A esposa do médico é de fato, a imagem e semelhança do Deus que tudo vê e tudo pode.O homem com o tapa-olho deixa o pensamento de responsabilidade de entreter as pessoas doentes, assim como entreter ele mesmo. Um simples rádio de pilha salva em vários momentos, o dia inteiro. O orgulho humano desaparece conforme o governo destrata os infectados, tratando eles como, de fato, doentes incuráveis. Racionamento de ração mandada pelo governo causa revolta ao leitor, conseguindo colocar a situação na imaginação com o pensamento de "se fosse comigo, não sei como reagiria". Aliás, o local é indefinido, dando a entender que tudo descrito pode acontecer em qualquer nação.

O livro mostra que Saramago não era só um bom escritor, como uma pessoa inteligente que sempre colocava as possibilidades nas imaginações alheias. Um simples cão faminto torna-se um monstro em suas descrições. Uma simples caminhada na rua devastada pela fatalidade torna-se uma cruzada em busca de lugares seguros. Uma simples queda de chuva transporta um alívio em sentir a renovação mutua incrível. A regra ortográfica criada pelo próprio autor fica confusa no princípio da leitora, mas não impede de que as interpretações corretas aconteçam. De fato, é incrível o que Saramago criou, fazendo com que seja confirmado, que Ensaio Sobre a Cegueira seja um dos livros mais impostantes da história da humanidade.

Autor: José Saramago
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Literatura Estrangeira/Romance
Nota: 5,0

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